Clube de Futebol "Os Belenenses" 

por Luís Vieira

               
                     

Algumas fotografias, curiosidades, etc.

                     
 

"Em 1945/46 o Belenenses ganhou o único campeonato que fugiu à hegemonia dos grandes."

"AS TRÊS TORRES DO CAMPEÃO COM GINÁSTICA MILITAR.
Capela, Vasco e Feliciano ficaram amarrados à história do Belenenses (e não só...) por grossos cordões de fama. Eram as torres de Belém. Formaram o esteio do único campeão que escapou à hegemonia dos três grandes.
Na última jornada do Campeonato Nacional de 1945/46 o Belenenses precisava de vencer em Elvas para manter o primeiro lugar. Ao intervalo perdia por 0-1, resultado que servia ao Benfica (...) Naquele tempo falava-se de uma tradição arrebatante: a vertigem dos 15 minutos à Belenenses - no último quarto de hora viravam-se resultados, conquistava-se ouro, no ardor épico de pensar que tudo era possível, até o impossível. Aos 75 minutos o Belenenses empatou, por Quaresma, que despertava de madrugada e ainda noite feita apanhava o cacilheiro para estar nas Salésias à hora do treino, trabalhando depois o resto do dia como electricista. Cinco minutos depois por Rafael, o golo que valeu o título. Para estudantes de Letras, o êxito ficara a dever-se às duras sessões de treinos, "uma de ginástica... militar, outra de bola" que todos os jogadores faziam "antes ou depois de mais um dia de trabalho ou de estudos" que Augusto Silva, oficial de marinha e treinador (companheiro de jogo de Pepe e outro dos grandes símbolos do clube) lhes administrava.
O título custou ao Belenenses 957.317$29. As receitas não chegaram a 668 contos. O prejuízo, cifrou-se, pois, em 282.428$37."

"FELICIANO DEITOU FORTUNA FORA
Após a conquista do título, o profissionalismo, ainda encapotado em várias capas de hipocrisia, despontou para o seu fenomenal reinado. Em Belém houve relutância em aceitar o novo estado das coisas, mas... Capela haveria de transferir-se para a Académica, a pretexto de estudar - e foi substituído por Sério. Feliciano, imagem viva de um belenensismo como dificilmente voltará a haver, antes de partir para férias, corria sempre a assinar a ficha que o vincularia ao clube no ano seguinte, nunca lhe exigindo um tostão. Mas, no final da época de ouro, o Celta de Vigo acenou-lhe com um contracto fabuloso: 200 contos de luva e um salário mensal de 3000 pesetas - e ainda 300 contos para o Belenenses. Quase irrecusável, pois. Ficou de pensar. No regresso de veraneio, para espanto de todos, abeirou-se de Acácio Rosa e pediu para assinar mais uma ficha pelo Belenenses. Perdeu uma fortuna, mas ficou ainda mais azul o seu coração..."

 

in "A Bola - Edição Especial 54ºaniversário - 31 de Dezembro de 1999"

"Belenenses perdeu campeonato de 1954/55 a 4 minutos do fim do jogo mais dramático da sua história"

"QUANDO O GOLO DO SPORTING FEZ DO BENFICA... CAMPEÃO!
Talvez nenhum campeonato que A BOLA reportou se tenha perdido assim - fechando-se numa dor tão profunda. Por isso, o mínimo do que se falava a propósito do que se passara nas Salésias era de drama. Emocionante, o modo como se contara o gesto comovente daquele final de tarde: o sportinguista Martins, pouco depois de apontar o golo que despojara o Belenenses de um título que os seus adeptos começavam já a festejar com foguetes e tudo, abeirou-se de Carlos Silva e pediu-lhe desculpa pelo que acabara de fazer, quando as lágrimas salpicavam as faces lívidas dos homens da Cruz de Cristo. Como o Sporting era treinado por Scopelli, que na fuga da Grande Guerra se refugiara em Portugal, fazendo do Belenenses a sua "Segunda pátria", dizia-se, antes do jogo, que os leões facilitariam a vida, mas ele sempre o negou: "uma coisa é a simpatia, outra é a profissão." Otto Glória, o treinado benfiquista, também não estava preocupado: "É bobagem imaginar que uma equipa possa oferecer uma vitória para prejudicar terceira." Estava certo. Aquele golo de Martins a quatro minutos do fim, colocando o resultado em 2-2, tornava o Benfica campeão de 1954/55. Para desgraça do Belenenses que precisava apenas e só de ganhar ao Sporting."
"SUBSCRIÇÃO PARA A TAÇA E MIL ESCUDOS DE PRÉMIO
Os adeptos do Belenenses puseram então em marcha uma subscrição pública para comprar uma taça para os campeões-que-dramaticamente-não-haveriam-de-sê-lo e com o restante dinheiro ainda pensavam dar um prémio de "500 ou 1000 escudos a cada um dos jogadores". A estrela da Cruz de Cristo era, então, Matateu. Que assim fechou carreira fabulosa sem o titulo maior. Para assinar pelo Belenenses, em Setembro de 1951, recebera 30 contos de luvas e a garantia, para além da ocupação como funcionário de escritório, profissão que já exercia em Moçambique, de 1600 escudos de subsídio mensal. Era, afinal, o que ganhavam, então, todos os outros jogadores da equipa de honra.

  in "A Bola - Edição Especial 54ºaniversário - 31 de Dezembro de 1999"

Matateu – o prodígio do Belenenses
Sebastião Lucas da Fonseca, nos relvados Matateu, foi um dos protagonistas do futebol português dos anos 50 e 60, tendo-se celebrizado ao serviço do seu clube, o Belenenses, mas também da selecção nacional portuguesa. Caracterizado por muitos como o melhor jogador nacional a seguir ao Eusébio, quem o viu em campo não deixa de elogiar a arte de um rei do futebol português.
Ao serviço do clube do Restelo, Matateu venceu dois títulos nacionais sagrando-se melhor marcador nas épocas de 52/53 (29 golos) e 54/55 (832 golos). Após ter chegado a Lisboa em 1951, o jogador natural de Moçambique, estreou-se frente ao F.C. Porto num a contar para a Taça Maia do Loureiro. Os seus dois primeiros golos no campeonato nacional foram marcados num desafio contra o Sporting, duas semanas depois de ter integrado o clube azul e branco. A vitória do seu clube por 4-3 contra os leões de Alvalade vale-lhe a primeira saída do estádio em ombros.
Mas a carreira no Belenenses também lhe reservou alguns episódios tristes como o jogo de Abril de 1955 em que a vitória sobre o Sporting garantiria a vitória ao seu clube. As duas equipas estão empatadas a dois bolas quando é anulado um golo a Matateu, que o jogador afirma ter passado a linha embora o árbitro não o tenha validado. O campeonato desse ano estava perdido mas o jogador estava convencido do golo que tinha marcado, o que tornou a perda ainda mais amarga.
Pela selecção nacional, Matateu estreou-se em Novembro de 1952 no Porto frente à selecção austríaca onde os portugueses cedem um empate a um golo. Posteriormente, Matateu foi internacional 27 vezes e marcou 13 golos, a maior parte dos quais em encontros particulares, embora tenha tido um papel de destaque na vitória sobre a República Democrática da Alemanha na fase final do Campeonato Europeu de 1959.
O momentos mais importante da sua carreira no Belenenses seria na final da Taça de Portugal de 1960. Num momento decisivo do encontro, quando a igualdade imperava no marcador, o golo de Matateu marcou um brilhante tento, que daria a Taça ao Belenenses e onde o golo que marcou selou a vitória sobre o Sporting por 2-1, que daria o troféu à equipa do Restelo.
Matateu era um jogador rápido, com um remate preciso, marcou um total de 217 golos no campeonato nacional, onde participou em 291 jogos até à saída em 1964, depois de várias lesões graves e do fim do contrato que a equipa do restelo não quis renovar.
Nessa data foi para a equipa do Atlético, que ajudou a subir à Primeira Divisão, tendo jogado posteriormente pelo Chaves e pelo Amora. Emigrou nessa altura para o Canadá onde jogou no First Portuguese. Volta a Portugal para integrar a equipa do Desportivo de Chaves, mas em 1972 muda-se definitivamente para o Canadá onde integra o Sagres de Vitoria, onde permanece até atingir 55 anos.
Recebeu uma Medalha de Mérito Desportivo do Governo português, mas Matateu considera-se um cidadão canadiano depois de ter ido viver para esse país, de onde era natural a sua mulher. O jogador voltou apenas a Portugal para assistir a duas celebrações realizadas pelo clube onde se celebrizou.
O Belenenses ofereceu-lhe um estatuto semelhante ao que Eusébio desfruta no Benfica, mas Matateu recusou, preferindo viver no seu país de adopção, onde morreu aos 72 anos de cancro. Terminava a saga de Matateu, um jogador que teve a fama e o talento para ser um dos astros do desporto rei português.
  in "http://noticias.sapo.pt" de 28 de Janeiro de 2000

SALA DE TROFEUS

no Estádio do Restelo

 

VITÓRIA DO BELENENSES NA LUZ POR 3-2

A sexta vitória do Belenenses sobre o Benfica na Luz em 1999/2000 garantiu a permanência do clube na I Liga Portuguesa